As várias faces do Assédio Feminino no meio gamer [ESPECIAL]

Discriminação às mulheres nos jogos eletrônicos. Ilustração: Chelsea Beck para a Kotaku, 2018.
Ilustração: Chelsea Beck para a Kotaku, 2018.
Em outubro deste ano o jogador profissional de League of Legends, Alanderson Gomes, mais conhecido como 4Lan, foi acusado de assédio sexual por duas mulheres em uma festa após o Brasil Game Show. Como resultado, teve seu desligamento da equipe Team oNe oficializado cinco dias após as acusações. O caso, mesmo tendo acontecido fora das redes, reacende a discussão a respeito do assédio às mulheres nos espaços virtuais e nas comunidades de jogos on-line. 

História

A discussão do tratamento das jogadoras no meio se popularizou em 2014 a partir do surgimento do Gamergate, polêmica nomeada em alusão ao famoso caso Watergate. A campanha de ódio se iniciou primeiramente com a desenvolvedora de jogos Zoë Quinn, que fora acusada por seu ex-namorado, Eron Gjoni, de dormir com membros da crítica especializada em jogos para que seu jogo conseguisse grande repercussão. Uma vez publicada a acusação, diversos usuários começaram a utilizar a hashtag #Gamergate para destilar ódio e ameaças a Quinn; posteriormente, essa mesma campanha se expandiu para outras mulheres, como a também desenvolvedora Brianna Wu e a crítica feminista de mídia Anita Sarkeesian.

Entre as milhares de mensagens enviadas às redes sociais das vítimas, era comum encontrar doxing (vazamento de dados pessoais) e ameaças até de estupro e morte.  Dessa maneira,  Gamergate se expandiu em fóruns da internet, tornando-se um movimento para contrariar a liberdade de expressão feminina dentro do mundo dos jogos eletrônicos.

Distribuição de jogadores de computador nos Estados Unidos de 2006 a 2018 por gênero. Fonte: Entertainment Software Association.
Gráfico: Entertainment Software Association.

Ao contrário do que se possa imaginar ao considerar este caso, o número de mulheres jogadoras não é inexpressível. De acordo com dados levantados pela Entertainament Software Association, o público feminino americano corresponde a 45% do mercado, enquanto no Brasil esse público chega a 53,6% do público de jogos online, segundo pesquisa da Games Brasil 2017, que levantou dados de preferências e comportamentos dos autodeclarados “gamers” brasileiros.

Em 2019, a ONG Anti-Defamation League realizou uma pesquisa envolvendo cerca de mil pessoas entre 18 e 45 anos que jogam online. Seu resultado revelou que mais da metade já sofreu assédio devido à sua orientação sexual, gênero, etnia ou religião, e que 38% das mulheres e 35% dos jogadores LGBTQ+ declaram sofrer importunações in-game devido seu gênero ou orientação sexual. Os cinco jogos onde os entrevistados relataram ter sofrido mais casos de assédio foram Deffense of the Ancients 2 (DOTA 2), Counter-Strike: Global Offensive (CS:GO), Overwatch (OW), PlayerUnknown Battlegrounds (PUBG) e League of Legends (LoL).

Acompanhe a matéria para descobrir depoimentos de jogadoras de Counter-Strike: Global OffensiveLeague of Legends e Role-Playing Games (RPGs), e entrevistas com jogadoras do Team Innova e INTZ CS:GO Female.

CS:GO. Imagem: Reprodução.
Imagem: Reprodução/Valve.

Counter-Strike: Global Offensive (CS:GO)

Desenvolvido pela Valve, Counter-Strike: Global Offensive, ou simplesmente CS:GO é um dos maiores jogos multiplayer de tiro em primeira pessoa com cerca de 11 milhões de jogadores por mês. Devido ao seu sucesso e um ambiente extremamente competitivo, a própria Valve patrocina alguns torneios do jogo, onde o prêmio principal pode chegar até $1,000,000.

Relatos de mensagens hostis recebidas pelas jogadoras. Ilustração: Edson Costa.

Em um ambiente de tamanha proporção, assédio e discriminação são infelizmente inevitáveis. Um dos casos de maior repercussão ocorreu em 2018, quando o jogador Reece “Bloominator” Boom, de então 25 anos, foi punido com expulsão de mil anos pela E-Sports Entertainment Association League (ESEA) após ter assediado uma jogadora de 15 anos. Ainda em 2018, um grupo chamado Bully Hunters foi criado por mulheres que decidiram se unir para agir contra os abusos e assédios que sofrem constantemente ao jogar CS:GO. O objetivo do grupo é a conscientização dos jogadores e empresas sobre a causa, e em seu site oficial é possível ler diversos depoimentos com relatos dos abusos sofridos pelas jogadoras.

Implementado em 2019, um novo sistema desenvolvido pela FACEIT em parceria com a Google passou a detectar comportamentos tóxicos e já chegou a banir mais de 20 mil jogadores. A ferramenta, que utiliza inteligência artificial, analisa os chats de texto do jogo e detecta ofensas e spams. Segundo relatórios da empresa, o resultado até o momento foi a redução de 20% de mensagens tóxicas no jogo.

Entre os diversos campeonatos de CS:GO está o Girl Gamer Esports Festival; criado em 2017 e realizado no mesmo ano em Macau, foi organizado devido à falta de participação feminina no e-sports, buscando promover a conscientização e incentivar a competitividade feminina em um cenário onde a representação das mulheres no segmento profissional continua reduzida. A primeira edição do GGEF foi transmitida através de múltiplas plataformas de streamings, registrando 1,4 milhões de espectadores. O campeonato conta com as categorias CS:GO e LoL.

A edição de 2019 do evento é sua sétima e sua final será realizada em Dubai. Dentro da modalidade de CS:GO, cinco mulheres brasileiras irão representar o Brasil nos Emirados Árabes. Diante de um cenário com pressões e assédios constantes, o que motiva as e-atletas que suportaram e decidiram ficar?

Camila “napeR” Naper. Foto: Felipe Guerra/@guerraesports

Camila “napeR” Naper é jogadora pela equipe feminina de CS:GO da INTZ, time brasileiro que disputará a final do Girl Gamer Festival 2019. Para se preparar, chega a treinar com a equipe de oito a dez horas por dia, por vezes continuando a jogar mesmo após os treinos. Apesar dos diversos casos na comunidade, napeR afirma possuir uma “boa relação” com a comunidade e que nunca sofreu assédio, apesar de conhecer pessoas próximas que sofreram. Em vez disso, a queixa pessoal da jogadora é sobre o trajeto como atleta eletrônica.

“É muito difícil chegar onde estamos”, contou. “Existe muito foco, determinação e abrir mão de muita coisa. Já pensei em desistir algumas vezes por questões financeiras, mas o amor pelo jogo e por competir sempre falou mais alto. Gosto de desafios e o melhor de todos é me superar cada vez mais”

Já para Francielle Bartolo, que trabalha de casa e faz Streaming, manter o microfone desligado é essencial para poupar-se de futuras dores de cabeça. A jogadora casual conheceu o jogo a cinco anos atrás e diz por ele ter muita afinidade, mas lembra de casos extremos, como quando estava grávida e precisou fechar o jogo após ouvir uma série de comentários negativos.

“Infelizmente, a maioria dos casos é abafado e, por conta disso, sempre que aparece um caso novo, se torna motivo de piada”, denuncia Fran.

Apesar de tudo, tanto napeR quanto Fran veem o futuro do cenário feminino de CS:GO de forma otimista, considerando a visibilidade, o reconhecimento e até os investimentos que as mulheres atraíram com o decorrer deste ano.

“Acredito que um dia vai ter uma mulher sinistra que vai colocar a cara a tapa e provar pra todo mundo que mulher é tão capaz quanto [homem], se não melhor”, aposta a jogadora casual. “E quando nossa Joanna D’arc aparecer, tudo vai mudar. Eu tenho fé”

De outro lado, é possível identificar como o ambiente e a sua toxidade foi capaz de afastar jogadoras que, cansadas dos constantes assédios, preferiram migrar para outros espaços. Um desses casos é referente as jogadoras do DREAMIT, time feminino russo de Apex Legends, que relataram sua trajetória rumo ao jogo de FPS (First Person Shooter) lançado em fevereiro deste ano. As três integrantes já se conheciam quando o jogo saiu, pois jogavam CS:GO juntas como DREAMIT – inclusive, a ideia de criar o time veio justamente neste ponto.

“Um dia, acordamos irritadas por não termos os mesmos privilégios que homens no cenário de CS:GO e decidimos criar nossa própria equipe e buscar patrocinadores” – DREAMIT ao Sakura Esports em Outubro deste ano.

Com o lançamento de Apex Legends, as jogadoras abandonaram completamente o CS:GO e dedicaram-se inteiramente à inovação. Quando perguntadas se havia o interesse de eventualmente criar um time de CS:GO dentro da organização, a resposta foi certeira: “Não. Nós não iremos apoiar ou adicionar um time feminino de CS:GO. A comunidade é contaminada demais. Não podemos apoiar um jogo que não faz NADA pela gente”.

Clique aqui para conhecer a DREAMIT, a única equipe feminina do Apex Legends Preseason Invitational, e sua história desde o CS:GO! (matéria de “Lana Juno” e “PanNda_TT” para o Sakura Esports)

Imagem: Reprodução/Riot Games.

League of Legends

Ocupando o primeiro lugar na lista de jogos para computador mais populares segundo a SuperData Research, o jogo da Riot Games movimenta milhões por ano em transações internas e campeonatos oficiais – o que não impede de estar no quinto lugar do ranking de jogos cuja comunidade mais assedia mulheres e LGBTs.

Exemplos de mensagens machistas nos chats do jogo. Fonte: Reprodução.

League of Legends é uma das duas modalidades do Girl Gamer Festival junto com CS:GO, e em ambas as categorias o Brasil conquistou vaga para as finais em Dubai, sendo representado no LoL pela Team Innova. Julia “Juraxxus” Prado, jogadora trans da Innova e sua rota do meio, é apaixonada por jogos competitivos “desde sempre” e acredita que só a presença de uma equipe brasileira nas finais já é uma “porta de entrada” para tornar o cenário “mais saudável para todas que estão vindo atrás”.

Juraxxus no Girl Gamer Festival São Paulo. Fonte: Reprodução/Twitter da Team Innova.

“É um pouco assustador [perceber que sou uma inspiração para as jogadoras profissionais do futuro], ao mesmo tempo que é uma delícia!”, comentou a e-atleta. “Eu sempre tive o coração muito aberto e me considero uma boa pessoa. Quero abraçar todas as mulheres, não só in-game. E, claro, os homens que estão no cenário. Mas em especial as mulheres, ser como um porto seguro. [Mostrar] que elas podem contar comigo”. 

Juraxxus afirma que não sofreu experiências muito marcantes relacionadas a assédio, mas lembra de um campeonato feminino em que precisou “provar a transexualidade e tratamento de formas bem invasivas”.

Já sobre o jogo ter completado aniversário de uma década em 2019, a e-atleta refletiu sobre como 10 anos é considerado “rápido” para o surgimento de um campeonato feminino a nível mundial. “Me sinto nervosa (risos), porém é uma sensação boa puxar essa ‘mulherada’ agora. Somos as primeiras lá fora e o peso de talvez ser uma referência não me assusta, só me dá mais vontade de dar o meu melhor. Mas carrego nessa viagem todas as mulheres, cis e trans!”.

Relatos das jogadoras casuais

“Para as mulheres conquistarem papéis de destaque, é só manterem o foco e a determinação” – é o que acredita a estudante e jogadora casual Raquel Melo, que joga League of Legends desde a quarta temporada. “O momento [em] que as mulheres decidirem chegar mais longe, nós alcançamos e conquistamos. O Brasil tem nível para competir”, afirmou decidida.

Apesar do otimismo, a streamer relata ter sofrido xingamentos e declarações sexistas, inclusive em suas transmissões ao vivo, e que, mesmo que suas melhores rotas sejam a do meio e atirador, há amigos que a designam como suporte ao  jogar com ela – por ser relativamente mais fácil que as demais rotas, jogadores sexistas assumem que “suporte é rota de mulher”.

Campeões explicados por rota; Top, Jungle, Mid, ADC e Sup. Fonte: Techtudo.
Tabela explicando as funcionalidades de cada rota e exemplificando com campeões. Fonte: Techtudo.

Já para Luiza de Melo Ferreira, que joga há quase tanto tempo que Raquel, há bastante mulheres jogando profissionalmente, o que carece é o interesse por parte das organizações em formar times femininos ou contratar novas faces. A também streamer acrescenta que, apesar de ser um assunto sério, o tempo de “bater na tecla” da discriminação sexual já passou, e agora é a hora de produzir conteúdo para visibilizar as mulheres do meio que mais precisam.

Luiza relata que já recebeu diversos xingamentos relacionados ao seu gênero in-game, inclusive importunações com conotações sexuais e mesmo em suas transmissões ao vivo. “Muitos caras aparecem para fazer perguntas voltadas ao sexo, me assediando, e meu conteúdo não é esse e nunca foi”, afirmou. Por medo, Luiza joga com o chat desligado. A jogadora casual também já passou por situações incômodas, como ser designada como suporte apesar de ser melhor em outras rotas, pelo motivo subjetivo de ter “instinto materno”.

Layane Machado é mais uma jogadora casual que ingressou no mundo de League of Legends na quarta temporada e mais uma otimista com o futuro do cenário feminino do jogo. A fotógrafa conheceu a Team Innova quando elas já tinham conquistado sua vaga para o Girl Gamer Festival e desde então acompanha e apoia o time como pode, e afirma: “Ter elas me representando é incrível, me faz repensar o meu potencial também em melhorar como jogadora”.

A jogadora declarou que só joga com amigos, assim minimizando possíveis situações desconfortáveis que já experienciou. Também explicou que sofreu diversas discriminações de gênero, até mesmo relacionadas aos campeões que ela escolhia pra jogar, chamando-os de campeões “de mulher”. Para ela, é difícil as mulheres denunciarem casos de preconceito pois sentem que dificilmente serão ouvidas. Mas ao contrário de Luiza, Layane afirma que “a tecla ‘mulheres nos games’ nunca será batida demais”.

Role-Playing Games (RPGs)

Um ambiente muito mais saudável e confortável para mulheres do que a maioria dos jogos competitivos online, mas certamente não impune do assédio e da discriminação, os Jogos de Interpretação de Papéis (Role-Playing Games, ou RPGs) são inspirados nas re-encenações históricas existentes a milênios e nos jogos de estratégia de guerra, estes datados aproximadamente dos anos 280, derivados do xadrez. Com a adição de elementos de fantasia aos jogos de guerra em 1960, foi uma questão de tempo até o primeiro RPG de mesa moderno surgir: Dungeons and Dragons, lançado em 1974, foi uma revolução no mercado, vendendo mil cópias em seu primeiro ano e considerado até hoje como uma referência.

Jessele Damasceno tem 25 anos, é advogada e joga RPGs há sete anos. Relembra que, quando começou a jogar, eram poucas as mulheres que também jogavam, e que a comunidade é bem machista. Para ser um espaço confortável para as mulheres aprenderem o jogo e se aprofundarem nele, foi criado há dois anos o grupo RPGirls, cujas participantes se reúnem quase toda semana para jogar e aprender, inclusive, a “mestrar uma mesa” – isto é, aprender a criar e conduzir um mundo.

Mestra atrás de seu escudo. Foto: João Micuanski.
Jessele atrás de seu “escudo de mestra”, espécie de guia que também fornece privacidade para a elaboração do mundo a ser jogado. Foto: João Micuanski.

“O mestre é aquele que tem um controle maior da história. Ele cria os NPCs, criando esse mundo onde os jogadores podem interagir. Esse mestre é um jogador, só que tem um controle maior do cenário, criando um mundo, história, enquanto os jogadores vão tentando resolver esses desafios”, explicou a jovem, que no momento mestrava uma mesa de Vampiro Unmasked

Quando começou a jogar, Jessele era a única mulher de uma mesa de amigos de faculdade. Ela explica que, quando se é novata no RPG e se interessa pelo jogo, tende-se a suportar fatores como machismo e assédio, afinal você quer aproveitar a sessão. A advogada recorda um caso em que o Mestre passou a tratá-la mal quando ela “não quis nada com ele”.

“Infelizmente isso é muito comum dentro da comunidade, especialmente quando você é a única mulher. Quando entra uma mulher no grupo, todos os outros participantes acabam por entender isso como liberdade para assediar”, contou. 

Para a mestra, a discriminação é visível também em aspectos maiores e menores durante o jogo; em mundos criados por mestres homens, as mulheres mais poderosas e com mais destaque são estereotipadas como sedutoras, por exemplo. A ideia de ensinar mulheres a mestrar surgiu também da vontade de ver mais jogos onde mulheres são protagonistas, não servindo apenas para seduzir homens.

“Normalmente, dentro do RPG você pode ser qualquer coisa”, explica Jessele. “Um guerreiro, um arqueiro, um juiz. Isso que [o RPG] traz para a mulher: você pode ser qualquer coisa. Quando uma mulher vai criar o personagem dela, ela tem uma liberdade […], não estando limitada como em jogos de computador. Isso é interessante”.

Jogadoras do grupo RPGirls reunidas à mesa para uma sessão. Foto: João Micuanski.

Julia Gonzaga joga RPG há quatro anos, é formanda em Pedagogia e conheceu o grupo RPGirls através de seu TCC, que abordará o jogo como ferramenta pedagógica que pode ser utilizada por professores em sala de aula. Para a graduanda, mesas exclusivamente femininas são fundamentais para auxiliar o ingresso da mulher ao jogo, mas manter essa segregação após a adaptação inicial pode fortalecer a mentalidade machista do meio. Ela já mestrou uma mesa pequena, mas ainda não se sente confiante para mestrar uma mesa grande sozinha.

Quanto a casos de assédio, Julia disse que ao jogar com amigos no ensino médio, sentiu desrespeito, mas não percebeu que era algo comum no cenário até conhecer o grupo e conversar sobre o assunto. Também contou que uma amiga deixou de participar de mesas quando um mestre “deu em cima dela”.

Outro fator que reforça estereótipos é a sexualização. A estudante observou que, em personagens femininas criadas por homens, as heroínas costumam ser fortes na personalidade, mas é comum serem descritas como “bonitas” ou até “gostosas”.

Jogadora de RPG rolando um dado multifacetado. Foto: João Micuanski.
Beatriz Messias manuseando um dado, instrumento utilizado para calcular chances e jogadas. Foto: João Micuanski.

Beatriz Messias é relativamente nova nos RPGs, jogando há um ano. Ela relata um caso parecido de discriminação visível em personagens ao lembrar que, em uma mesa que participa, a única NPC (Non-Playable Character, Personagem Não-Jogável, figurantes) mulher é uma professora que “não serve pra muita coisa”.

“Ela é inteligente, possui várias informações, mas em batalha é meio que inútil”, conta. “Mas tenho um amigo que joga como mulher e as mulheres que ele faz são sempre bem fortes e legais. Então acho que depende muito da pessoa e da maturidade”, acrescentou ela, que faz Letras – Português na UFPA. Beatriz também disse já ter recebido investidas de um jogador, mas que após conversar com ele e com os demais jogadores da mesa, a situação foi resolvida e ela não chegou a abandonar o jogo.

Outro ponto que incomoda muito jogadoras de RPG é a dificuldade por parte dos jogadores homens em entender que nem sempre elas se sentirão à vontade para participar de “corujões”, isto é, jogatinas que começam à noite, passam pela madrugada e se estendem até o amanhecer, geralmente na casa de algum jogador.

Beatriz lembra de um corujão que aceitou ir, mas não conhecia ninguém exceto o amigo que a convidou, ficou bastante nervosa e chegou a conversar com ele para decidir se ficaria. Mesmo confiando muito nele, a jogadora só se sentiu mais segura com a chegada de outra menina, que não jogaria, mas era amiga dos participantes da mesa.“No começo, fiquei com muito medo e pensei que caso desse alguma coisa errada, pediria um Uber e iria embora do local”, contou.

Integrantes do RPGirls jogando Vampiro Unmasked. Foto: João Micuanski.

A novata da mesa era Laís Fagundes, também acadêmica de Letras – Português, que estava jogando pela primeira vez. A estudante disse que se interessou pelo jogo e tinha vontade de eventualmente mestrar uma mesa com um mundo criado por ela. A jovem pretende criar uma personagem mulher autossuficiente que “deva conseguir se virar em todas as situações”, e está ansiosa para descobrir o novo universo que estava surgindo através dos dados.

O grupo RPGirls faz parte do Projeto Artemis, criado também há dois anos para incentivar e valorizar o público feminino paraense e combater o machismo inerente à comunidade gamer. Além do segmento de RPG, há também os de: organização de eventos gamers com foco no público feminino; projeto de revista visual de garotas gamers para garotas gamers; empresa de desenvolvimento de jogos composta apenas por mulheres; e projeto de treino em defesa pessoal para mulheres.

Agradecimentos e Notas Finais

  • Às jogadoras da Team Innova, Julia Prado e Tainara Oliveira, por aceitarem responder nossas perguntas apesar da pouca disponibilidade, e serem muito gentis por todo o processo;
  • Às jogadoras da INTZ Camila Naper, por aceitar responder nossas perguntas apesar da pouca disponibilidade, e Regiane Santos, que aceitou responder mas infelizmente não teve tempo, e por ambas serem muito gentis por todo o processo;
  • Às jogadoras casuais, verdadeiros anjos que salvaram esta pauta: Francielle Bartolo, Raquel de Melo, Luiza de Melo Ferreira e Layane Machado;
  • A todas as jogadoras casuais que se disponibilizaram a ajudar, mas já tínhamos recebido respostas o suficiente;
  • Ao time Dynasty Girls, que gentilmente disponibilizou suas jogadoras de CS:GO para responder as perguntas, mas ao final decidimos que a matéria já estava bem extensa (Perdão! Ainda publicaremos bastante sobre o sucesso das line-ups de vocês 😉 ! );
  • À Ruth Pereira, que nos apresentou o RPGirls, e ao “Yami”, por ser acessível e nos informar sobre o RPGirls e o Projeto Artemis;
  • À nossa professora Kalynka Cruz, por ter nos dado a liberdade de nos aprofundar neste assunto que nos é confortável, e por nos elogiar tanto na entrega a ponto de ficarmos vermelhos;

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Créditos

Esta reportagem foi produzida pelos alunos Adalana “Lana Juno” Duarte, Edson CostaJessé Ferreira e João Micuanski para a disciplina de Jornalismo Digital e Novas Mídias (#DigiJornUFPA) da Universidade Federal do Pará.

1 comentário em “As várias faces do Assédio Feminino no meio gamer [ESPECIAL]”

  1. Muito esclarecedor e bem escrito. Inclusive, com base em experiências pessoais, ratifico muitos dos fatos evidenciados na matéria.

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